
Neste ano que chega ao seu final, começo a pensar em tudo o que se passou, em todos os acontecimentos, cada dia, cada semana... vou refazendo e ... não sei se caio na gargalhada ou afogo as mágoas numa taça de espumante. Ou ainda, morro chorando... Tenho algumas alternativas ao menos...
Sinto a necessidade de marcar alguns momentos que, talvez por terem sido causadores de muitas dores, dores profundas, precisavam ser sentidas para que hoje pudesse eu pensar em como consegui, de certa forma, escapar de sentimentos que não conduziriam a lugar algum.
Começamos o ano com tragédias, perto de nós, incêndios, vidas que morreram por desajuste humano. Logo, além das programações tristes e infelizes das TVs, somos obrigados a ouvir, aceitar e seja lá o que mais, algo parecido com música, são chamadas de músicas, porém as sinto vazias, ocas de qualidade, de sentido e de linguagem. Isso vai para onde? Que ouvidos acolhem tudo isso? Não sei, tenho receio de saber que sei...
Situações difíceis apresentaram-se como desafios para que eu tivesse a certeza do nada que somos como seres humanos, e do tudo que podemos vir a ser.
Perdi muitas coisas, muitos afetos, perdi algumas vezes a vontade de continuar vivendo, por tantas decepções que ao longo do ano foram acumulando-se. Não sou acostumada a desistir, e assim foi... Não desisto da vida, tento buscá-la em qualquer lugar, com muitas lágrimas e gritos de desespero, mas vou atrás dela.
Ouvi palavras lindas, de poetas amigos que conheci virtualmente, li livros, histórias, poesias, contos, crônicas, biografias.... que atiçam minha vontade de continuar na vida a lutar por um mundo melhor. Perdi meu amiguinho, meu guri, que vivia ao meu lado, cuidando, sentindo o que eu sentia, consolando-me com seu olhar de carinha virada pro lado, ganhava sempre um sorriso, uma bola, um chinelo, ou ainda uma mordida boa... Mas era tão bom... Deixou-me muita, muita saudade mesmo, o Kimba, nosso Maltês de quase 10 anos.
Tentei ajudar muitas pessoas, como meus alunos e suas famílias, alguns sucessos obtive, outros sei que algum tipo de marca ficou...
Algo inédito surgiu em minha vida, um trabalho com idosos e a música. Percebi o sentido que a Psicologia e a Música provocam e promovem em mim.
Já, noutros momentos, ouvi algumas palavras desagradáveis, fui odiada, fui chamada de chata, queriam até ensinar-me o que significa 'projeção', vejam bem, meus amigos.
Seria algum tipo de projeção de cinema?
Essa projeção realmente estou disposta a aprender...
A outra deixo para Freud, sempre soube mais que nós...
Falando no moço esse, quantas "acontecências" no curso de Psicologia, amores, paixões, desistir ou não desistir, tolerar ou mandar pastar, fazer ou deixar que os outros façam do seu jeito simples de fazer... Sim, são e foram muitos momentos assim, de escolhas. A vida é feita de escolhas, já dizia alguém... Agradeço tanto a alguns professores que eles nem imaginam que sou agradecida a eles.
Tantas coisas boas, que são as que ficarão, aconteceram e por tudo isso sinto alegria hoje, pois:
ter uma filha como a que tenho, linda, artista, braba mas lutadora, com desejos à flor da pele por uma sociedade mais justa e eficaz coletivamente, os encontros com meus amigos, em especial minha amiga Tamara, as conversas especiais com amigas da música, minha analista que aturou minhas loucuras (e ainda tem muito prá segurar...), os momentos felizes em família, a manutenção de um trabalho que tanto me alimenta como ser humano e me fez, exatamente pelo momento que a humanidade passa hoje, buscar respostas (que espero não as encontre...) na Psicologia...
Afinal, com tantas coisas, digo aos amigos...
Que ano...
Que intensidade de acontecimentos...
E como sempre entra a medida de tempo em nossas vidas, o tempo maior vivido por mim neste ano que chega ao seu fim, foi composto de ansiedades, tristezas e dores. O menor tempo esteve com as alegrias, pois estas sempre acontecem em intervalos menores, em espaços pequenos, nos instantes de uma nota, de uma música, de um olhar, de uma palavra de acolhida... E nem sempre consegui percebê-las...
Vejo e sinto como é sublime
"não deixemos passar um segundo na vida sem olhar para ele"