Estudou Freud, foi além retornando a ele redefinindo e criando novas visões dos conceitos psicanalíticos, sob a trilha da linguística e do estruturalismo. Figura controversa para os estudiosos, criticado e amado ao mesmo tempo, configurou uma obra difícil de ser compreendida.
Quem o lê sente-se muitas vezes mal por parecer tão ignorante, pois sua escrita dá a entender uma intelectualidade de poder que esmaga o leitor.
Mas não me assusto com isso. Pelo contrário, mais desejo sinto em ler, quantas vezes for.... Não importa.
Lacan mostra-se original quando passeia entre a Filosofia, a Antropologia, a Linguística e a psicanálise.
O desejo do ser humano desliza, incessantemente, de um objeto para outro, seguindo o caminho que a linguagem lhe indica, com sua organização de deslocamento sintagmático ou metonímico.
Lacan constrói sua tese de que o inconsciente se estrutura como linguagem. Também o lapsus, os atos falhos, os sonhos e os sintomas, em suma, todas as formações do inconsciente, surgem como resultado das substituições metafóricas ou metonímicas de um ou mais significantes por outros, vinculados aos originais por diferentes tipos de relações.
O Espelho e a representação do corpo - bebê - corpo este (fragmentado) esquema corporal fragmentado continua a se expressar durante a vida adulta nos sonhos, delírios e processos alucinatórios. Concebe seu corpo como quebrado ou sujeito a se partir em pedaços. Sinal de imaturidade? De prematuridade? Resultado das vivências relacionadas à incoordenação motora, própria dos primeiros meses de vida? Imago arcaica compartilhada por todos os homens, em todas as culturas? Mito? Lacan recorre a todas estas explicações, em diferentes momentos, para explicar um fato de inquestionável verificação clínica.
Surge a identificação com uma imago = promessa daquilo que virá. Este seria o olhar da mãe = fantasma = imaginário (termo lacaniano)
Tudo isto institui o Eu, afirma-o, constituindo-se como Ego Ideal (o que não somos, mas queremos ser).
O olhar deve ser entendido como uma metáfora geral: é o que pensam de mim, o desejo do semelhante (muito bom isso)
Caminhamos na vida assim, indo e vindo entre o que sabemos, o que não sabemos e o que temos curiosidade em saber. Uma ideia influencia outra e isso vem de idos tempos.
A Psicologia, enquanto ciência moderna, organiza-se a partir das bases criticadas por Nietzsche ao tomar como pressuposto um psiquismo consciente, organizado por um EU racional que possibilita o conhecimento. Ao desconstruir o conceito de EU e da unidade do indivíduo Nietzsche lança as bases para uma nova Psicologia que considere o homem como efeito da luta de forças muitas vezes inconscientes e incontroláveis. Ah essa modernidade que fez a Psicologia racionalizar-se e 'tranquilizar' o sujeito à ideia de poder controlar-se.Isso tudp acaba dividindo esse EU pois se mostra incoerente e em permanente
conflito. Logo, a Psicanálise freudo-lacaniana reconhece os limites da racionalidade e da consciência dando lugar ao inconsciente e às pulsões.
O que prende o homem à vida, segundo a teoria freudiana, é a libido, que coincide
“com o Eros dos poetas e filósofos, o qual mantém unidas todas as coisas vivas” (Freud, S.1920/1996, p.61)
a psicanálise de Freud se aproxima da filosofia de Nietzsche. Lá por meados do sec. XX entra o nosso amigo Lacan que, ao retornar aos textos freudianos traz á tona de novo o subversivo relacionado à ciência. Lacan afirma que a verdade surge da equivocação, com isso tornando os tropeços da linguagem no principal acesso ao sujeito e à sua verdade, sempre singular.
Porque o sujeito diz sempre mais do que quer dizer, sempre mais do que sabe dizer, os atos falhados são atos na verdade bem sucedidos e as palavras que tropeçam são palavras que confessam.
- continua -
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